O Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de Brasília (UnB) encaminha nota de repúdio ao Governo do Distrito Federal (GDF), a respeito da ação arbitrária de destruição da horta comunitária do Setor Comercial Sul (SCS) de Brasília por agentes públicos do GDF, em 10/02/2021, sob a alegação de se tratar de espaço onde ocorre tráfico de drogas e violências. 

 

Essa horta comunitária fazia parte de atividades do Projeto de Extensão Aroeira do Instituto de Psicologia (IP), conduzidas pelo Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas (PRODEQUI), com sede no SCS. A ação do GDF derrubou o jardim agroflorestal construído há mais de dois anos com esforço e recursos obtidos por meio de articulações e parceiras entre a o Projeto Aroeira da UnB, o CAPs AD III e vários coletivos, tais como o Instituto No Setor, Tulipas do Cerrado, Rede Globo, dentre outros. 

 

Íntegra da Nota de Repúdio ao GDF:

 

NOTA DE REPÚDIO AO GDF

 

Em 10/02/2021 fomos surpreendidos por uma ação arbitrária de destruição da horta comunitária do Setor Comercial Sul de Brasília por agentes da NOVACAP, a mando da Polícia Militar, sob a alegação de se tratar de espaço onde ocorre tráfico de drogas e violências. A ação do GDF derrubou o jardim agroflorestal construído há mais de dois anos com esforço e recursos obtidos por meio de articulações e parceiras entre a o Projeto Aroeira da UnB, o CAPs AD III e vários coletivos, tais como o Instituto No Setor, Tulipas do Cerrado, Rede Globo, dentre outros.

 

O Projeto Aroeira começou como uma prática de estágio curricular do curso de graduação em Psicologia da UnB junto à população em situação de rua do Setor Comercial Sul (SCS) e hoje é um Projeto de Extensão Contínua do Instituto de Psicologia da UnB, sob coordenação da Profa. Maria Inês Gandolfo Conceição, coordenadora do Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas (PRODEQUI), com sede no SCS. O Projeto de Extensão Aroeira é uma proposta multidisciplinar que visa a associar o plantio agroecológico com o fortalecimento da autonomia e incremento das redes de cuidado e de saúde das pessoas envolvidas com o cultivo e com as outras etapas do processo produtivo, no espaço de ocupação urbana de populações vulnerabilizadas. O projeto realiza atividades relacionadas à Agroecologia, às Artes e à Redução de Danos no território do SCS, local com intenso fluxo de pessoas que circulam pelo comércio, trabalham na região ou vivem em situação de rua.

 

Com o argumento de prevenir o crime e sob a bandeira da guerra às drogas, o espaço de plantio estrategicamente escolhido pelo Projeto Aroeira para promover o cuidado das pessoas vulnerabilizadas pela violência urbana, foi uma vez mais palco da truculência do estado contra as populações abandonadas pelas políticas sociais. Não é a primeira vez que o território do SCS é cenário de ações desumanizadoras contra os seus habitantes. Em plena pandemia, assistimos a reiteradas manobras de retirada de pertences dos moradores de lá, ainda que sob fortes apelos dos que assistiam a essa medida covarde, num franco intuito de retirar o pouco que lhes restava para sobreviver minimamente. Para quem a vida já tirou praticamente tudo, o estado insiste com o projeto de eliminação: primeiro lhes são roubados os objetos pessoais, depois o espaço de cultivo de alimentos, vínculos e esperanças. Nesse rumo, não tardará muito e veremos se repetir a cena que marcou a tragédia da Cracolândia em São Paulo em 2017, que demoliu prédios e gente, carregando entre os escombros seus moradores para depósitos humanos, levando à morte de alguns deles. Não podemos nos calar diante de tamanha violência para garantir o processo de gentrificação neoliberal.

 

Os inúmeros e reiterados retrocessos no âmbito dos direitos humanos e do fomento à ciência precisam ser enfrentados com conhecimento, resistência e projetos de reconstrução da paz. Violência não se combate com violência. Esse ciclo precisa ser imediatamente interrompido. O estado, por meio de suas políticas, deveria se ocupar em contribuir para melhores condições de vida, como vem sendo proposto pelo Projeto Aroeira aqui vilipendiado.

 

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